Piso de caquinho: a herança brasileira que conquista a arquitetura

Quem nunca pisou num chão formado por pedacinhos irregulares de cerâmica vermelha, criando um mosaico cheio de personalidade?

No quintal da avó, na calçada da vizinha ou na varanda antiga, o piso de caquinho marcou gerações e hoje reconquista espaço na arquitetura.

O caquinho é mais do que um simples revestimento — ele carrega, principalmente, história, afeto e uma forte identidade brasileira. Nos dias de hoje, ele surge como uma escolha estética.

Mas você sabe o começo dessa tendência?

Do imprevisto à tradição: Como surgiu o piso de caquinho?

Quital com piso de caquinho - Foto: Leila Viegas
Foto: Leila Viegas | Histórias de Casa

O piso de caquinho nasceu de forma simples e espontânea no Brasil, entre as décadas de 1940 e 1950, um período marcado por transformações nas cidades brasileiras.

Nessa época, o país vivia um ciclo de crescimento urbano acelerado e, diante da necessidade de construir mais, em menos tempo e com menos recursos, surgiram soluções criativas e acessíveis.

Na Grande São Paulo, as olarias e fábricas de cerâmicas produziam grandes quantidades de ladrilhos e telhas, mas como o processo era rudimentar, muitas peças se quebravam durante a fabricação. Os próprios operários, que estavam mais próximos da produção, deram novo propósito a esses cacos que seriam descartados.

Portanto, com um olhar prático, eles passaram a reutilizar os fragmentos cerâmicos para revestir os pisos de suas próprias casas. Os profissionais assentavam os “caquinhos” artesanalmente, criando mosaicos rústicos e irregulares.

A solução era perfeita: o material era barato, resistente ao tempo e de fácil manutenção. Além de dar um charme visual ao espaço, não é?

Um clássico do Design Vernacular

O surgimento do piso de caquinho nasceu do improviso e da necessidade, ou seja, é um dos exemplos mais genuínos do que chamamos de design vernacular: que surge do cotidiano, dos saberes populares, das condições locais e dos recursos disponíveis.

O piso de caquinho não foi criado por um designer em um escritório, mas por pessoas que encontraram beleza naquilo que, para muitos, não passava de sobras ou descartes.

O sucesso do piso de caquinho

Chão com caquinhos na cor branca.

Sobretudo, aquilo que começou como uma alternativa econômica e funcional se espalhou pelas cidades brasileiras. O piso de caquinho foi sendo adotado não somente pelos operários da fábrica, mas por famílias de diferentes regiões e classes sociais, especialmente nas casas construídas entre as décadas de 1950 e 1980.

Além disso, o que ajudou a consolidar sua popularidade foi a durabilidade e o baixo custo de manutenção. O piso era resistente às chuvas, ao sol e ao tempo, ideal para o clima brasileiro e para os espaços de grande circulação. Sua fama se espalhou tanto que, por muitos anos, o caquinho foi sinônimo de “piso de fora de casa”.

O caquinho carrega consigo essa memória afetiva e sensação de aconchego e familiaridade. E devido a sua identidade forte, ele nunca saiu de cena por completo.

Chão com caquinhos coloridos.

 A valorização recente do design retrô e da estética vintage fez o piso de caquinho voltar a ser desejado. Arquitetos, designers e clientes passaram a enxergar no caquinho uma forma de resgatar a alma das casas brasileiras, trazendo charme e autenticidade a projetos contemporâneos.

Hoje, o piso de caquinho é, ao mesmo tempo, símbolo de criatividade popular e peça chave em projetos modernos.

Como usar piso de caquinho nos projetos de hoje?

O piso de caquinho ganhou nova vida na arquitetura contemporânea. Arquitetos e designers vêm reinterpretando esse clássico com criatividade: surgem versões com caquinhos em outros tons além do tradicional vermelho, como bege, terracota e até preto.

Parede de cozinha com caquinhos vermelhos

Hoje, o caquinho aparece não só em áreas externas, mas também em ambientes internos como cozinhas e banheiros, trazendo textura, identidade e um visual retrô ao espaço.

Dica bônus: Para um resultado ainda mais harmônico, vale pensar no caquinho em diálogo com portas e esquadrias bem escolhidas. Portas em tons neutros ou com acabamento natural ajudam a valorizar o visual artesanal do piso.

Hall de entrada com chão de caquinho

Muito além de revestimento

O piso de caquinho é muito mais do que um simples acabamento no chão. Ele carrega em cada fragmento uma história de criatividade popular, de aproveitamento inteligente dos recursos e de uma estética que nasceu da necessidade, mas que resistiu com o tempo e evoluiu com ele.

Hoje, em um cenário onde sustentabilidade, memória e autenticidade se tornaram valores essenciais na arquitetura, o caquinho volta em cena como uma tendência retrô e como uma expressão de identidade brasileira.

Leia também: Quem foi Luis Barragán e como ele revolucionou a arquitetura moderna?

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